quarta-feira, 27 de outubro de 2010

UM INCENTIVO ÀS AMIGAS QUE AINDA NÃO ATINGIRAM O PESO IDEAL

"NÃO PRECISA SER MAGRA PARA SER FELIZ", por Fluvia Lacerda:




Modelo há três anos nos Estados Unidos, a brasileira Fluvia Lacerda, de 28 anos, já trabalhou como babá e garçonete para conseguir se manter no país norte-americano. Comparada a modelos como Gisele Bündchen e Adriana Lima, Fluvia não se importa em ser ícone da categoria plus size, ou seja, para modelos consideradas acima do peso. Ela se destaca por fazer campanha contra a ditadura da magreza: "Uma pessoa não precisa ser magra para ser feliz", analisa.

Casada com o engenheiro australiano Lee (com quem acha viver em plena "honey moon", como ela própria diz) e mãe de Lua, de 8 anos, Fluvia, de 1m72 de altura e manequim 48, não esconde sua vontade de também ser reconhecida no Brasil. "Sair dos Estados Unidos e retornar ao Brasil seria inviável por conta do meu trabalho e da minha família que mora aqui, mas acredito que ninguém seja feliz por completo se também não é reconhecido pela sua nação", comentou. Conheça um pouco mais de Fluvia na entrevista abaixo:

- Quando iniciou sua carreira de modelo?

- Comecei a trabalhar como modelo há três anos, já pela agência Elite, considerada uma das maiores do mundo.

- Você tem alguma outra profissão além de modelo?

- Depois 11 anos nos Estados Unidos, onde exerci várias atividades para conseguir me manter, como a de babá e garçonete, hoje eu consigo me dedicar apenas à carreira de modelo.

- Desde quando você mora nos Estados Unidos? Qual o motivo?

- Vim para New York há 11 anos para estudar inglês e outros idiomas. No entanto, diante das dificuldades que a minha família enfrentava naquela época no Brasil, quando cheguei aqui, ao invés de estudar decidi correr atrás de trabalhos que pudessem me ajudar a mandar dinheiro para minha casa. Não suportava a ideia de ter minha família passando necessidades.

- Você é considerada a Gisele Bündchen da categoria 'plus size'. Como se sente ao ser comparada a ela?

- Poxa, ser comparada com a Gisele e também à Adriana Lima é uma honra. São mulheres divinas, que conseguiram se destacar no mercado não apenas pela beleza, mas também por conta da postura e do profissionalismo. O mercado plus size é novo e já ser comparada com uma das mulheres mais lindas do mundo, claro que deixará qualquer mulher lisonjeada. Mas antes que me pergunte, não gostaria de ter a mesma silhueta que a dela (Bündchen). Sou muito feliz com o meu corpo e com a minha carreira.

- Você acredita que se estivesse no Brasil seria possível ter o mesmo sucesso que tem no exterior?

- Acredito que não, até mesmo porque este mercado ainda não existe no Brasil. Enquanto em vários países da Europa e mesmo aqui nos Estados Unidos este é um segmento que cresce a cada dia e é cheio de oportunidades, no Brasil as pessoas ainda vivem prisioneiras de uma ditadura da magreza. Mesmo as gordinhas se punem diariamente saindo de uma dieta e entrando em outra. Cobram-se tanto por conta desses padrões impostos pela sociedade, que esquecem de se perguntar se realmente se importam com os quilinhos a mais e se são felizes da maneira como são. Uma pessoa não precisa ser magra para ser feliz. Hoje, marcas de alta-costura e revistas famosas já requisitam modelos mais cheinhas para estamparem as marcas. Por conta disso, espero ser uma inspiração para as brasileiras, para os veículos de comunicação e também para empresários a acompanharem essa evolução do mercado. Meu sonho é ver o Brasil como uma grande potência neste setor.

- Em quais lugares do mundo você já desfilou?

- Eu sou uma modelo fotográfica, isto é, viajo bastante, mas sempre posando para fotos. Já participei de campanhas em diversos países da Europa, México e Estados Unidos. Soube que recentemente uma modelo plus size desfilou na Fashion Week de Milão, o que me deixou muito feliz. É mais um espacinho que conquistamos.

- Já foi ofendida em algum lugar por conta do seu peso?

- Isso já aconteceu bastante, principalmente quando eu ainda morava no Brasil. Sempre tinha uma piadinha sobre gordinhos e, claro, aqueles comentários: poxa, você é tão bonita, se emagrecesse um pouquinho seria perfeita, o que me deixava furiosa. Mas, no fundo, eu nunca dava ouvidos, uma vez que sempre fui muito bem resolvida com isso. Minha autoestima nunca foi abalada e sempre me senti feliz do jeito que sou.

- Você se considera uma pessoa bonita?

- Com certeza, eu sempre me achei linda. Mas não digo isso de forma "metida" ou que me sinta melhor que as outras pessoas. Como disse, beleza não é e não deve ser traduzida apenas pelos traços do rosto, em pernas contornadas ou pela sua silhueta. A beleza é um conjunto de coisas, principalmente aquelas que carregamos dentro da gente. E toda mulher pode se sentir maravilhosa, desde que faça as pazes consigo mesma e passe a se aceitar do jeito que é e, principalmente, que respeite a sua natureza.

Você é vaidosa?

- Super. Adoro me vestir bem, me produzir, me lambuzar de cremes, cuidar dos cabelos, fazer massagem, ioga... Adoro andar de bicicleta e malho todos os dias. E, ao contrário do que todo mundo imagina, para ser uma modelo plus size é preciso, sim, cuidar da alimentação e praticar atividades físicas. Eu, por exemplo, evito os refrigerantes, frituras e os doces. Dou prioridade aos legumes e verduras, principalmente se forem crus, para que não percam as vitaminas. E está fora do meu cardápio os alimentos enlatados ou que contenham muitos aditivos químicos. Sou fã das coisas "naturebas". Portanto, quem pensa que eu vivo de chocolate e fast food está muito enganado. Mas não vivo de dieta, aliás, nunca fiz uma dieta na minha vida. O segredo é saber escolher bem os alimentos que vamos colocar no prato.

- Qual o seu peso? Qual o número do seu manequim? Quanto você tem de altura?

- As pessoas não acreditam, mas eu não sei qual o meu peso. Para mim é apenas mais um número e como nunca suportei a idéia de me tornar refém da balança, desisti de subir em uma. Portanto, não sei mesmo quanto peso. Mas o meu manequim é tamanho 48 e eu tenho 1m72 de altura.

- Pensa em algum dia morar no Brasil novamente?

- Morar no Brasil seria inviável para a minha carreira e também porque a minha família está aqui. Mas tenho muita vontade de trabalhar no Brasil. Apesar de já ser reconhecida no exterior, acho que ninguém é completamente feliz se também não é reconhecido pela sua nação, né!? E vejo a dificuldade das brasileiras gordinhas em se vestirem, em se descobrirem como mulheres lindas, maravilhosas e sexies. Sinto que é meu dever ajudar. E gostaria muito de ter oportunidades para fazer isso. Recebo milhares de e-mails com relatos de pessoas que conseguiram se libertar dessa ditadura imposta pela sociedade depois de lerem ou verem a minha história. E quero fazer mais por elas. Por isso, estou aberta a propostas de empresários brasileiros para iniciar este movimento também no Brasil.